PF diz que Instituto FHC e Instituto Lula receberam dinheiro da Odebrecht
Contas correntes da empresa foram usadas para pagar propina, aponta laudo.
Análise achou pagamentos a políticos, ex-políticos e diretores da Petrobras.
O Instituto Fernando Henrique Cardoso (FHC), o Instituto Lula e a empresa LILS receberam cerca de R$ 4 milhões em recursos da Odebrecht. A informação faz parte de um laudo da Polícia Federal, que se tornou público nesta sexta-feira (6). Os dois instutos são ligados aos respectivos ex-presidentes e a empresa LILS é a que organiza as palestras proferidas pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.
Segundo o documento, o Instituto FHC recebeu R$ 975 mil da Odebrecht, entre dezembro de 2011 e dezembro de 2012. Já os pagamentos para as duas entidades ligadas a Lula receberam R$ 3,97 milhões, pagos entre 2011 e 2014. Não há informação de que os recursos tenham origem ilícita.
Esse laudo trata da movimentação financeira da Odebrecht e da ligação da empreiteira em contratos da Petrobras. A construtora é uma das empresas investigadas na Operação Lava Jato. Em junho deste ano, o presidente da holding que controla a construtora, Marcelo Odebrecht, foi preso pela Polícia Federal. Ele e ex-executivos da companhia respondem a processos originados pela investigação.
Conforme o laudo, a Odebrecht movimentou cerca de R$ 277 milhões em contas no exterior, que foram usadas para pagar propina. Segundo a análise, a holding e as subsidiárias firmaram contratos que soam R$ 34,5 bilhões, com a Petrobras, seja diretamente ou participando em consórcios com outras empresas. A Odebrecht foi a empresa que fechou o maior volume de contratos com a estatal, seguida das construtoras Techint e Queiroz Galvão.
Para os investigadores responsáveis pelo relatório, a movimentação financeira da Odebrecht nas contas bancárias reforça a hipótese de que o grupo tinha um poder de decisão no suposto cartel descoberto pela Lava Jato. Segundo as investigações, as principais empreiteiras do país dividiam entre si quem iria tocar as obras da Petrobras e definiam preços por vezes superfaturados. A diferença nos valores cobrados da estatal era distribuída para pagar propina a funcionários e a políticos.
No caso dos ex-funcionários O documento da PF também mostra repasses feitos pela empreiteira a diversos políticos, ex-políticos e campanhas eleitorais, bem como a funcionários da Petrobras. Entre os que receberam dinheiro da empreiteira está o ex-diretor de Serviços, Renato Duque, que teria levado US$ 2,7 milhões. Para Pedro Barusco, que foi gerente da mesma Área e subordinado de Duque, a empreiteira pagou US$ 7,6 milhões.
O ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa recebeu outros US$ 6 milhões, segundo o documento. Quem menos recebeu, conforme a planilha, foi o ex-diretor da área internacional da Petrobras, Jorge Zelada. De acordo com o documento, ele levou US$ 63,68 mil
Presidente nega
No dia 30 de outubro, Marcelo Odebrecht entregou à Justiça um documento no qual nega ter conhecimento do pagamento de propina a qualquer agente público. Da mesma forma, diz que não conhece qualquer conta ilegal da empreiteira no exterior. No entanto, a conclusão do laudo da PF é de que a movimentação financeira só seria possível se houvesse o aval do presidente da companhia.
A assessoria da Odebrecht afirmou ainda que os contratos com a Petrobras representam menos de 1% do faturamento do grupo e que recebeu mais que as outras companhias citadas porque é a maior construtora da América Latina. Ainda conforme a empresa, todas as doações feitas foram dentro da legalidade.
O Instituto FHC afirmou que os valores repassados são doações feitas para a manutenção da instituição. Segundo a entidade, os pagamentos estão registrados nos demonstrativos financeiros e contábeis. O instituto também informou que as contas e atividades são supervisionadas pela curadoria de fundações do Ministério Público do Estado de São Paulo.
O Instituto Lula e a LILS afirmaram que jamais receberam contribuições ou pagamentos ilícitos e que o vazamento de informações protegidas por sigilo bancário, das duas organizações, ofende o estado democrático de direito. A empresa LILS também informou que foi contratada por várias empresas e que tudo foi declarado ao fisco.
Em nota, a defesa de Renato Duque não quis comentar o laudo, pois não teve acesso ao documento. Já a defesa de Jorge Zelada diz que ele não reconhece o recebimento de qualquer vantagem indevida, enquanto era funcionário da Petrobras. A defesa de Pedro Barusco também informou que não vai comentar o caso.
O advogado de Paulo Roberto Costa informou que o ex-diretor já admitiu, em delação, ter recebido recursos ilegais. O acordo, segundo a defesa, prevê a devolução de quantias em dinheiro depositadas no exterior.
A assessoria da Queiroz Galvão afirmou que a empresa não vai comentar o laudo da Polícia Federal. A Techint foi procurada, mas também não quis se posicionar sobre o documento