Foto: Agência Brasil
MARINA DIAS E CÁTIA SEABRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apesar de temer uma derrota para Jair Bolsonaro (PSL) no primeiro turno, a campanha de Fernando Haddad (PT) já elaborou um roteiro de aproximação com candidatos e partidos adversários, caso consiga chegar à segunda fase da disputa pelo Planalto neste domingo (7).
A ideia é que o petista coloque o plano em marcha logo nas primeiras horas após o fim da apuração dos votos, para demonstrar que ainda tem potencial de crescimento e impedir o maior avanço do capitão reformado sobre o terreno do centro político.
Na última semana antes do primeiro turno, a equipe de Haddad se concentrou em identificar -e admitir- erros táticos na condução da campanha, ajustando os movimentos e agendas do candidato para tentar conter a onda em apoio a Bolsonaro, que chegou a 39% dos votos válidos.
Em menos de dez dias, o presidenciável do PSL alarmou os petistas ao crescer entre o eleitorado mais rico e escolarizado, sua trincheira habitual, mas também beliscar fatias importantes do campo lulista, como mulheres, pobres e nordestinos.
Auxiliares de Haddad afirmam que, caso o herdeiro do ex-presidente Lula consiga de fato chegar ao segundo turno, vai mexer na coordenação de sua campanha e adotar imediatamente uma nova palavra de ordem: ampliação.
É consenso entre seus assessores que uma frente de centro-esquerda precisa ser montada em torno da sua candidatura. Mais alinhados ao campo de atuação petista, Guilherme Boulos (PSOL) e Ciro Gomes (PDT) seriam, nesse cenário, os primeiros acionados.
O aceno ao mercado financeiro, porém, ainda divide a equipe de Haddad.
O grupo mais próximo ao candidato quer que ele passe uma imagem moderada e independente aos investidores, enquanto petistas orgânicos ainda resistem em flertar com o setor que foi seduzido por Bolsonaro desde a primeira etapa da disputa.
A Folha apurou que o próprio Haddad escalou auxiliares para conversar com integrantes do mercado financeiro e, no campo político, vai atuar diretamente, ao lado de seus escudeiros, no diálogo com os possíveis neoaliados.
O tesoureiro petista, Emidio de Souza, e Luiz Dulci, ex-dirigente do Instituto Lula, por exemplo, são nomes que estão na linha de frente dessas missões, principalmente em relação a Ciro Gomes.
Dirigentes do PT acreditam que o presidente do PDT, Carlos Lupi, tem perfil pragmático e não seria reticente diante de um acordo com Haddad em um eventual segundo turno.
O próprio Ciro, no entanto, azedou a relação com os petistas durante a campanha, com críticas abertas ao partido e a Lula, apesar de sempre ter mantido uma boa interlocução com Haddad.
A pessoas próximas, o ex-governador do Ceará chegou a dizer que o PT errou ao eleger Bolsonaro como principal adversário e se ressentiu de não ter conseguido formar, desde o início da disputa, uma frente única do campo político mais à esquerda.
Além dos candidatos adversários, partidos como o PSB serão procurados pelos petistas, via direção nacional, que declarou neutralidade na primeira fase da campanha e já afirmou publicamente que não apoiará Bolsonaro em um eventual segundo turno.
Integrantes do PT ainda defendem que, já na segunda-feira (8), haja uma reformulação no comando da campanha, agregando, inclusive, nomes egressos de siglas aliadas.
Um dos principais ungidos para ocupar um cargo à frente da equipe de Haddad é Jaques Wagner, que deve se eleger senador pelo PT da Bahia.
A expectativa é que ele abra diálogo constante com empresários, lideranças do Nordeste e das Forças Armadas –Jaques foi ministro da Defesa durante o governo Dilma Rousseff e tem bom trânsito com militares, um dos redutos de Bolsonaro.
Outros governadores e senadores petistas que forem eleitos e não precisarem mais se preocupar com as próprias campanhas também devem ser escalados para contatar atores políticos, financeiros e sociais.
Já no campo mais ao centro, aliados de Haddad defendem uma aproximação cautelosa.
Com o PSDB de Geraldo Alckmin, por exemplo, o próprio candidato petista tem linha direta com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas não acredita que o tucano vá declarar apoio à sua candidatura em um eventual segundo turno. O nome do PSDB ao governo de São Paulo, João Doria, já declarou simpatia pelo capitão reformado.
A expectativa de Haddad e de seu grupo mais próximo é que caciques do PSDB alinhados a FHC, somados a intelectuais e artistas, engrossem uma campanha anti-Bolsonaro.
Ainda nesse campo, acreditam, pode estar Marina Silva (Rede), que tem sido agressiva com o PT e, por isso, não nutre esperanças em petistas de que possa participar de aliança formal com Haddad.
Há quem defenda, inclusive, chamar Henrique Meirelles (MDB) para o acordo. Haddad, por sua vez, avalia que o ex-ministro da Fazenda é carimbado com o selo do governo Michel Temer, mas assessores do petista dizem que ele pode ser ouvido pela experiência que tem.
O PT vai estimular que o movimento #EleNão, que foi às ruas em 29 de setembro, extrapole o público predominantemente feminino e se transforme em um caldo cultural contra o capitão reformado.
A campanha de Haddad sabe que o sentimento antipetista aumentou significativamente nas últimas semanas -a rejeição de Haddad foi a 40%, ante 45% de Bolsonaro- estimulando o voto útil contra o candidato de Lula.
A aposta é que o confronto direto proporcionado pelo segundo turno permita a desconstrução do capitão reformado, com discurso mais firme e assertivo de Haddad, no campo moral e, também, das propostas do adversário.
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