FHC: no Nordeste, ‘bunker petista, a oposição encontra agora
Esforçou-se para extrair das urnas consolos para a perda de São Paulo, tradicional cidadela tucana. “Se o PSDB era um partido ‘do Sudeste’, expandiu-se no Norte e Nordeste. O próprio DEM, candidato à extinção, segundo muitos, derrotou o lulo-petismo em Salvador, Aracaju e Mossoró.”
Anotou que, “juntos, PSDB e DEM levaram sete das 15 maiores cidades da região” Nordeste. Celebrou o feito com os olhos voltados para 2014: “No bunker petista das eleições presidenciais, a oposição encontra agora fortes bases de apoio…” Nas duas eleições de Lula (2002 e 2006) e na vitória de Dilma Rousseff (2010), a oposição fora surrada nesse pedaço do mapa.
Na falta de um nítido triunfo digno de fogos, FHC como que refugiou-se no relativismo. Há “dificuldades para uma avaliação objetiva”, argumentou. Deu dois exemplos: “em Belo Horizonte ganhou o PSB aliado ao PSDB, mas os votos são dos socialistas ou do PSDB de Aécio? O mesmo se diga de Campinas. Bastaria mudar o cômputo dessas duas cidades para alterar a posição relativa dos partidos no rol dos vencedores.”
Na capital mineira, o prefeito Marcio Lacerda (PSB) prevaleceu numa disputa contra o ex-ministro do Bolsa Família Patrus Ananias (PT), que teve Lula e Dilma em seu palanque. Aécio costuma jactar-se de ter lançado Lacerda para a política. Daí a pergunta de FHC: “são votos dos socialistas ou do PSDB de Aécio?”
Em Campinas, Jonas Donizette (PSB) bateu um dos “postes” de Lula: Márcio Pochmann, ex-presidente do Ipea. Foi no palanque de Pochmann que Lula lançou o bordão que repetiria noutras praças: “…de poste em poste, nós vamos iluminar o Brasil”. Além do vice tucano, o vitorioso Donizette levou aos seus comícios dois nomões do PSDB: o governador paulista Geraldo Alckmin e o próprio Aécio.
FHC dedicou um naco do artigo ao PSB do governador pernambucano Eduardo campos. “Teve dois êxitos significativos: derrotou o lulo-petismo em Recife e em Fortaleza. Isso abre margens à especulação sobre suas possibilidades para as eleições presidenciais, com uma cisão no bloco que até agora apoia o governo Dilma.”
Prosseguiu: “A divisão entre os eleitores continua sendo entre governistas e oposicionistas. Daí a peculiaridade da situação do PSB que, governista, derrotou o partido hegemônico no governo, o PT. Prosseguirá neste rumo? Difícil responder.” Sem mencionar-lhe o nome, FHC teorizou sobre as dificuldades que assediam o projeto presidencial de Eduardo Campos.
“Para ocupar posições polares num sistema organizado entre governo e oposição é preciso dispor de base social e rumo político. Se o PSB vier a disputar com chances de êxito as [eleições] presidenciais, terá que ser identificado pelo eleitorado como diferente do lulo-petismo, ainda que não oposto a ele, e terá de obter apoio em amplos setores sociais em função dessas diferenças. Uma coisa é ganhar votos nas eleições municipais, outra nas federais.”
A certa altura, FHC fez uma rápida referência ao troféu de Lula: “O PT se pode gabar de haver ganhado São Paulo.” Feita a concessão, pôs-se a sopesar. Mas o PT “deve reconhecer que seu avanço no país foi tímido para quem queria obter mil prefeituras e detém as rédeas do poder federal e as chaves do cofre. Manteve 16 prefeituras nas cidades com mais de 200 mil habitantes, contra 15 do PSDB (que antes tinha apenas dez).”
Na contabilidade de FHC, são três os partidos que emergiram das urnas “com maior capilaridade no eleitorado brasileiro”. Esmiuçou o raciocínio: “O PMDB, sem vitórias expressivas fora do Rio de Janeiro, guardou, contudo, uma rede importante de prefeituras: nas cidades com mais de 100 mil habitantes, ganhou em 45, ficando o PSDB com 48 e o PT com 54.”
Injetou o Estado de São Paulo na análise: o PSDB “ganhou 176 prefeituras, contra 67 do PT. E, mesmo na capital, arrastando o desgaste da administração local [Gilberto Kassab], obteve 40% dos votos.”
Avalia que o PSDB tem razões para comemorar. Por quê? Sem as “rédeas do poder” federal e longe das “chaves do cofre”, o partido “manteve a posição sendo oposicionista e, portanto, com maior dificuldade para obter recursos financeiros e políticos.”
Para FHC, o PSDB reteve na temporada eleitoral o título de “carro-chefe” da oposição. Renovou-se em várias praças sem desprezar as lideranças tradicionais, entre as quais citou Arthur Virgílio, que derrotou em Manaus Vanessa Grazziotin (PCdoB), para quem Lula e Dilma pediram votos.
E quanto ao futuro? FHC flertou com o óbvio. A renovação não passa apenas pelos nomes novos, mas pelas ideias. “[…] Implica se comunicar melhor, usando linguagem contemporânea nas mídias televisivas e eletrônicas.”
Ensinou: a “pregação” deve ser permanente, não pode limitar-se aos períodos eleitorais. Evocando a artilharia que o petismo costuma usar contra o tucanato, FHC acrescentou: “É preciso a reiteração cotidiana das crenças e valores partidários, para reagir à tentativa dos adversários de estigmatizar o PSDB como o partido ‘dos ricos’, privatista a qualquer custo e arrogante.”
Como um parafuso com a rosca espanada, o ideólogo do PSDB rodopiou ao redor de teses que repete há tempos: “Sem deixar de ser um partido modernizador, o PSDB, como escrevi tantas vezes, deve se dirigir aos mais pobres, mas também às classes médias, tanto às antigas como às camadas que aumentaram a renda mas ainda não têm identificação social própria. É esse o caminho para êxitos futuros.”
Não poderia haver evidência mais eloquente da dificuldade do PSDB para posicionar-se em cena do que reiteração de argumentos “tantas vezes” escritos. De duas, uma: ou o partido discorda do seu líder ou, mais provável, tem dificuldades para encenar o papel de interlocutor dos “mais pobres” e das “classes médias”.
- Serviço: pressionando aqui, você chega à íntegra do artigo de Fernando Henrique.
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